Antes de começar uma nota prévia: não acredito no AVC. Não acredito estar a escrever isto e não acredito em vocês. Aliás, não acredito na vossa existência. O que já contei e o muito que vou contar sobre o AVC é, para mim, fruto da minha imaginação. Que, modéstia à parte, deve ser muito boa. No entanto, deste texto farão parte alguns trechos que, garantidamente, são bem reais - por exemplo uma viagem que vou contar ou a minha adolescência. Ou não.
Não acho importante que o que vou contar seja ou não verdade. Acho que a perceção que temos da realidade é mais verdade que ela própria. Que importa que esteja calor se eu tiver os pés frios? Fechar os olhos é a melhor forma que temos de olhar a realidade.
O livro continua a ser vendido e 50% do lucro de venda de cada exemplar reverte para a Associação Salvador. Para além do indicado o livro também pode ser encomendado a mim.
- Para quê perder tempo? Já o fiz durante anos e perder tempo é a pior das perdas. É pior que perder a vida. Eu já perdi um deles e quase a outra – tenho bastante conhecimento de causa. Uns 85% dele.
- Excelente. Repita, mas mais devagar quando falar.
Repeti aquilo umas dez vezes até que o Miguel disse:
- Excelente. Agora leia em voz alta esta folha.
“
Sabendo o que sei e sabendo o que sabes e o que não sabes e o que não sabemos, ambos saberemos se somos sábios, sabidos ou simplesmente saberemos se somos sabedores.
O tempo perguntou ao tempo qual é o tempo que o tempo tem. O tempo respondeu ao tempo que não tem tempo para dizer ao tempo que o tempo do tempo é o tempo que o tempo tem.
Em baixo da pia tem um pinto que pia, quanto mais a pia pinga mais o pinto pia!
A sábia não sabia que o sábio sabia que o sabiá sabia que o sábio não sabia que o sabiá não sabia que a sábia não sabia que o sabiá sabia assobiar.
A minha vida tem sido a prova que os planos a longo prazo podem correr muito mal. Aos vinte eu estudava engenharia e imaginava-me a trabalhar toda a vida na área. Plano furado. Aos vinte eu namorava e fazia daquele namoro um projeto eterno. Plano furado. Com a idade que tenho delineava já ter filhos. Plano furado. Apenas três eventos furaram uma quantidade enorme de planos. A
Depois de uma rápida e superficial leitura da minha cronologia, voltei-me para o que tem sido o meu, quase, vício dos últimos meses:
- Olá, Isabel. Por aí?
- Olá. Sim, que tal o dia? Tranquilo? Foste lá ao laboratório?
- Calma. Tanta pergunta. Bom. Sim e sim.
- Conheceste a tal doutora? Que te disse ela?
- Continuas imparável. Conheci e não me disse nada de especial. Disse que tinha que me fazer uns testes. E deu-me um termo de responsabilidade para eu ler e se concordar: assinar.
- E já leste?
- Não, mas já assinei.
- Assinaste sem ler?
- Sim. Esteja lá o que estiver eu quero fazer o ensaio.
- E se lá disser que depois do ensaio vão-te matar? É melhor leres.
- Achas que vai lá estar uma coisa dessas?
- E se estiver? Não sabes. Não leste, não sabes.
- Isto pode parecer um absurdo, mas a vida está cheia deles e o pior é que alguns vêm mascarados e enganam a razão. Por vezes o instinto fala muito alto e, neste momento, o meu está aos gritos a dizer que eles são de confiança.