Nomeei-te rainha. Há maiores do que tu, maiores. Há mais puras do que tu, mais puras. Há mais belas do que tu, há mais belas.
Mas tu és a rainha.
Quando andas pelas ruas ninguém te reconhece. Ninguém vê a tua coroa de cristal, ninguém olha a passadeira de ouro vermelho que pisas quando passas, a passadeira que não existe.
E quando surges todos os rios se ouvem no meu corpo, sinos fazem estremecer o céu, enche-se o mundo com um hino.
Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo, que solidão errante até tua companhia! Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva. Em taltal não amanhece ainda a primavera. Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos, juntos desde a roupa às raízes, juntos de outono, de água, de quadris, até ser só tu, só eu juntos. Pensar que custou tantas pedras que leva o rio, a desembocadura da água de Boroa, pensar que separados por trens e nações tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos com todos confundidos, com homens e mulheres, com a terra que implanta e educa cravos.