por vezes, quando já nada afasta as aranhas, é um vento breve que varre o fumo cinzento dos poemas. a frescura nesse vento é uma fonte de aves nos meus dedos. como crianças a brincar com um elástico, o vento é ensurdecedor e afasta os medos e os relâmpagos.
Sei que, provavelmente, não estou a dormir, mas o meu corpo não o sabe e teima em levitar. crueldade. um vento vermelho sopra-me do peito como um rasto febril de lucidez e acordo. em chamas, mas na minha cama. sinto um toque breve e volto a sonhar. o mar e o céu não são azuis, nem a relva verde. o choro das aves é tépido e a alma é morna. fundo-me no sonho enquanto a madrugada avança na penumbra mascarada de raio solar.
o desenho das crianças é muito sincero. isso a todos fascina, mesmo que só elas vejam gaivotas e magaridas nas cores. um dia, muito colorido, pedi a uma menina de 4 anos que desenhasse uma tartaruga, fez uma árvore tão perfeita que os ramos pareciam saír do papel e tornarem-se braços magros.