avc-r
- Para quê perder tempo? Já o fiz durante anos e perder tempo é a pior das perdas. É pior que perder a vida. Eu já perdi um deles e quase a outra – tenho bastante conhecimento de causa. Uns 85% dele.
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- Para quê perder tempo? Já o fiz durante anos e perder tempo é a pior das perdas. É pior que perder a vida. Eu já perdi um deles e quase a outra – tenho bastante conhecimento de causa. Uns 85% dele.
deixa errar
as minhas mãos
até onde respiram as fontes
que ardam
entre os teus lábios
tocar-te como quem sonha
tocar agora o fulgor
e errar novamente até à fogueira breve
mergulhar
entrar
tocar-te como se respira
Depois de administrado o fármaco, a Dalila levou-me ao gabinete onde eu tinha conhecido e sido acompanhado pelo Miguel. Outra pessoa o ocupava.
- Olá, Jorge. Este é o Rodrigo.
- Obrigado, Dalila. Olá, Rodrigo. Sou o Jorge, sou fisioterapeuta e vou acompanhá-lo nos próximos dias. Posso?
Agarrou as pegas da cadeira, desviando cordialmente a Dalila e mostrando que queria ser ele a empurrá-la:
- Muito gosto, Jorge.
Os tratamentos do Jorge eram
quando eu morrer não quero ninguém triste. costuma dizer-se que só a morte não tem remédio. não concordo totalmente. para quem fica e ama os que partem, mais que ter remédio, a morte pode, muitas vezes, ser um remédio, mas mais que remediar os que ficam têm obrigação de ser felizes. eu sei que é mais fácil falar que praticar e que a ausência física magoa muito, mas pensem: quem vos ama e parte, onde quer que esteja, quererá ver-vos tristes? duvido.
outro motivo para não querer ninguém triste é porque a minha ausência física não o justifica. sejamos práticos: fisicamente só dou trabalho, emocionalmente estarei aqui.
quando eu morrer não quero ninguém triste.
contigo imaginar o teu nome
e a simplicidade com que incendeia
os filamentos do sonho
a inocência
e a extrema lucidez do infinito
o que sobra depois dele?
um céu sem estrelas?
um poema sem sílabas
um oceano sem ondas
dunas de silêncio no corpo
teias de solidão nos olhos
lágrimas que a música liberta
espero o silêncio ardente dos pássaros
para poder nele ver a solidão das estrelas
e a cruel navegação da saudade no corpo
a imobilidade do branco e do cimento
faz pesado o infinito e atenua memórias
sem que a eternidade as condense
a impaciência desfaz a poesia durante o silêncio
e apaga a perfeição escaldante dos moinhos de fogo
nas avenidas de sangue que os orgasmos desenham
com canetas de carnal desejo
anéis de versos e vozes sangrentas estrangulam
o único despertar permitido ao palpável
esfaqueiam a liberdade da criação
e os mapas de amor das letras
Depois dos dois exames, a doutora Mariana recebeu-me, de novo, no, bem decorado, gabinete dela:
- Estive a ver os seus exames e o seu cérebro está em perfeitas condições de prosseguirmos com o ensaio. Quando quer começar?
- Assim que vos for possível.
- Como sabe, o tratamento baseia-se em injeções. Temo-las prontas e podemos começar quando quiser.
- Pode ser já amanhã
desejo humedecido,
prazer recortado,
orquídeas unidas,
chamas curvas.
gemidos ansiados,
olhos escondidos,
nudez debruçada,
ondas fluídas.
elevado fulgor: travão do infinito
com lâminas de voz, luz e luar,
silhueta de noites que não começam
verso delirante que me liberta de vendas
e me embriaga com o próprio sangue:
mistério que te transborda do corpo.
este tipo-blog foi anunciado na Atmosfera dos Livros. Sintam-se à vontade de fazer o mesmo.
roubam o ar aquele miúdo atrás do vidro com gorduras de condolência que suplica moedas e os homens sombra que sempre se deitam com serpentes pretas.
trinta e seis mil maneiras de desaparecer decoradas.
ao longe: um choro. perto: clamores e luzes. gritos desafinados em corpos já gastos. semáforos que ensinam vidas.
alguém disse que o fim estava próximo.
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