Os filhos mais velhos têm tendência a achar que são os reis ou as rainhas da casa. E não é que (pelos vistos…) são mesmo?
O Huffington Post consultou vários especialistas e fez uma lista com cinco sinais que mostram que os irmãos mais velhos são “melhores” que os mais novos:
Nunca nos poderemos sentir sós se dominarmos a arte de sermos felizes com a nossa companhia. Eu, desde que me conheço, que, no mínimo, me tenho a mim como companhia. Não tem corrido mal. Modéstia de parte: tenho sido uma excelente companhia para mim. Faço-me rir; converso; oiço-me; simpatizo comigo. Ninguém faria por mim o que eu faço.
Estar só connosco não é obrigatoriamente mau. Se pensarmos bem, a solidão é a forma que o universo tem de nos ensinar o caminho para dentro de nós.É possível estar só e conseguir quase tudo, parece-me que só a moral não se adquire em solidão. Claro que há os livros, mas de pouco valem se os ensinamentos que nos dão não puderem ser experimentados.
Claro que somos bichos sociais e que a companhia é indispensável, que as boas companhias até em silêncio o são, mas, normalmente, para ser boa companhia tem que se saber estar só. A solidão ensina-nos a ser boa companhia.
A solidão, no entanto, tem outra face. Uma mais sangrenta. Mais cruel. Uma que não se inibe de ferir todas e todos que se atravessam na sua frente. Que faz as casas pequenas e fogo o ar que só respiramos para não morrer. A solidão que mais se mostra. Confesso que me falta o ar só de pensar nela. De pensar na forma como arranca pedaços ao corpo de todas as coisas. Essa, que nos quebra os ossos e nos junta a cabeça aos pés, persegue-nos com facas afiadas e silencia todos os sons. Uma solidão mais tirana que o mar quando engole um navio.
Falo daquela a que nos remetem os desejos que não satisfazemos e que ninguém ajuda a concretizar. Essa a que nos remetem os hábitos que nos deixam – sempre que não são bem substituídos. Não a que sentimos por estar só, mas a que sentimos por não estarmos com quem queremos. Essa é, normalmente, muito destrutiva.
Não penses para amanhã. Não lembres o que foi de ontem. A memória teve o seu tempo quando foi tempo de alguma coisa durar. Mas tudo hoje é tão efémero. Mesmo o que se pensa para amanhã é para já ter sido, que é o que desejamos que seja logo que for. É o tempo de Deus que não tem futuro nem passado. Foi o que dele nós escolhemos no sonho do nosso absoluto. Não penses para amanhã na urgência de seres agora. Mesmo logo à tarde é muito tarde. Tudo o que és em ti para seres, vê se o és neste instante. Porque antes e depois tudo é morte e insensatez. Não esperes, sê agora. Lê os jornais. O futuro é o embrulho que fizeres com eles ou o papel urgente da retrete quando não houver outro.
A Isabel acabara de pôr em evidência uma das suas características que mais admiro: a ponderação. Confesso que sou totalmente doente pela mulher ponderada. A ponderação obriga a pensar o que, normalmente, é sinal de inteligência: pela qual, admito, sou obstinado. Não gosto de mulheres burras, embora não saiba muito bem o que é isso de ser burra. Pressente-se. Sente-se.
Muitos me perguntam como é que um tetraplégico escreve. Eu explico. Não sou tetraplégico sou tetraparésico. Escreve-se com o cérebro e com os dedos – que não paralisaram na minha tetraparésia.
Eu uso o rato e o teclado virtual do Windows. E sei de casos de tetraplégicos que escrevem tocando nas teclas com um lápis preso entre os dentes. Há casos muito piores que o meu. Haja paixão. Haja amor ao que se faz.
Quanto ao processo de escrita, na prosa, começo por imaginar a história em traços gerais e depois vou construindo ao redor disso sem nunca perder o meu objetivo de vista. Um bom truque é dar um nome ao texto logo que se arranca. Isso mantém-nos focados. Já na poesia o processo é ligeiramente diferente. Como um poema é, normalmente, escrito muito rapidamente, é quase impossível perdermos o foco. Esse é um dos motivos para não dar nome aos poemas: não é preciso.
Se calhar tenho tido sorte, mas tirando um – que já explico – a minha condição não me tem trazido problemas na edição, já na divulgação a história é diferente. Um autor pouco conhecido – como eu –, no meu entender, tem duas hipóteses para divulgar o que faz: ou é extremamente talentoso – que não acho que seja o meu caso – ou baseia a divulgação em entrevistas e apresentações – atividades muito limitadas para um tetraplégico que quase não fala. Por exemplo: ninguém entrevista um mudo na rádio.
A dificuldade que tenho na edição é financeira. Como sou tetraplégico não trabalho e a ridícula reforma que recebo é a minha única fonte de rendimento já que os livros são uma casmurrice e contam mais como despesa que como rendimento. Editar, a mim, custa dinheiro. Se calhar existem apoios para casos como o meu, mas estão, de certeza, pouco divulgados – que é o mesmo que não existirem. Sem falsas modéstias, acho que casos como o meu deveriam ser apoiados, mas enfim: haja amor ao que se faz.
O amor ao que se faz deve mesmo ser a terceira regra de qualquer escritor. A primeira é ler e a segunda é escrever. A inspiração existe, mas quando ela chega convém estar a transpirar. É do que ela se alimenta: dar-lhe de comer é boa ideia. Excelente ideia, aliás.