Tudo o que foi escrito sobre o amor são criações. Criações da alma, do espírito e da mente. Criações de poetas, prosadores, pintores, filósofos, psicólogos, sociólogos e profetas. São definições criadas por vós, por mim, por novos e velhos, homens e mulheres. Todos alteramos a definição de amor. Alteramo-la à medida que muda o objeto do nosso amor, alteramo-la através da erudição, da experiência, da religião, do sofrimento e da alegria. Alteramos as definições, mas não alteramos o amor.
A verdade sobre o amor nunca foi escrita nem nunca poderá sê-lo. São inúteis todas as palavras e símbolos que conhecemos para descrever algo que na realidade não existe em forma alguma. Que existe em todas as formas e não-formas, mas que não existe em forma alguma.
a imobilidade. o silêncio. impedem até a morte. mesmo preso a uma doença, preso a um estado, preso aos espelhos (ao que há dentro deles), a companhia da noite é suficiente para a mente viajar por letras afiadas, por palavras pontiagudas. viajar. sonhar.
nas paredes brancas, a silhueta de animais sem sombra respira insetos, peludos e com muitas pernas, como se fosse um colchão de enxofre.
estes lençóis deram-me uma ideia: escrever uma espécie de diário sem datas. as datas obrigam. a ideia não é essa. a ideia é o desconforme: a desproporcionada largura que as palavras permitem.