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vinho tinto

vinho tinto

30
Jan03

LATE NIGHT SECRETS

Li, há uns dias, a alguém que escrevia num comentário de um blog, que Fernando Pessoa está fora de moda.

 

A P O N T A M E N T O
Álvaro de Campos


A minha alma partiu-se como um vaso vazio.
Caiu pela escada excessivamente abaixo.
Caiu das mãos da criada descuidada.
Caiu, fez-se em mais pedaços do que havia loiça no vaso.

Asneira? Impossível? Sei lá!
Tenho mais sensações do que tinha quando me sentia eu.
Sou um espalhamento de cacos sobre um capacho por sacudir.


Fiz barulho na queda como um faso que se partia.
Os deuses que há debruçam-se do parapeito da escada.
E fitam os cacos que a criada deles fez de mim.

Não se zanguem com ela.
São tolerantes com ela.
O que era eu um vaso vazio?

Olham os cacos absurdamente conscientes,
Mas conscientes de si mesmos, não conscientes deles.

Olham e sorriem.
Sorriem tolerantes à criada involuntária.

Alastra a grande escadaria atapetada de estrelas.
Um caco brilha, virado do exterior lustroso, entre os astros.
A minha obra? A minha alma principal? A minha vida?
Um caco.
E os deuses olham-o especialmente, pois não sabem por que ficou ali.

19
Jan03

...

um banco de jardim

não é mais que um banco de jardim

 

mas existe a madeira de que é feito

assim como existe a lua, o sol e a Ria de Aveiro

 

o mundo fora da gaveta

onde escondemos as crónicas de sempre

11
Jan03

desperdício genético

 

vida toupeira, desperdício genético,

na cegueira colectiva faço apenas o que me obrigam

 

tão pouco é o ar que respiramos

 

catacumbas espirais, túneis em chamas

que não chegam nem levam a parte alguma do céu

 

tão pouco é o ar que respiramos

 

estou no lado errado da lua,

numa sala fechada pela orgulhosa ignorância

de um gorila que navega à deriva

protegendo-se das tempestades de merda

que ele próprio inventa

com a máscara do conforto

 

tão pouco é o ar que respiramos

 

pouco
interessa

 

tão pouco é o ar que
respiramos

 

nada que me
interesse

 

estou rodeado de orgulhosos poços de
saber,

profundos abismos oceânicos povoados
de conhecimento,

formas de vida desprovidas de vazio,
tudo as preenche

na totalidade
e,

imagine-se,

basta-lhes uma moeda

para responderem a todas as necessidades alheias

 

até eu, cápsula de cianeto, posso mergulhar

e afogar-me nesse mar de erudição sem perigar

qualquer outra espécie viva ou já
morta

 

mas faço apenas o que me obrigam

no último sopro da toupeira

mascarada pelo conforto

 

que escasso

é o ar que respiro nestes túneis

01
Jan03

janeiro 2003

 

 

vida toupeira, desperdício genético,

na cegueira colectiva faço apenas o que me obrigam

 

tão pouco é o ar que respiramos

 

catacumbas espirais, túneis em chamas

que não chegam nem levam a parte alguma do céu

 

tão pouco é o ar que respiramos

 

estou no lado errado da lua,

numa sala fechada pela orgulhosa ignorância

de um gorila que navega à deriva

protegendo-se das tempestades de merda

que ele próprio inventa

com a máscara do conforto

 

tão pouco é o ar que respiramos

 

pouco interessa

 

tão pouco é o ar que respiramos

 

nada que me interesse

 

estou rodeado de orgulhosos poços de saber,

profundos abismos oceânicos povoados de conhecimento,

formas de vida desprovidas de vazio, tudo as preenche

na totalidade e,

imagine-se,

basta-lhes uma moeda

para responderem a todas as necessidades alheias

 

até eu, cápsula de cianeto, posso mergulhar

e afogar-me nesse mar de erudição sem perigar

qualquer outra espécie viva ou já morta

 

mas faço apenas o que me obrigam

no último sopro da toupeira

mascarada pelo conforto

 

que escasso

é o ar que respiro nestes túneis

 

11-1

 

 

um banco de jardim

não é mais que um banco de jardim

 

mas existe a madeira de que é feito

assim como existe a lua, o sol e a Ria de Aveiro

 

o mundo fora da gaveta

onde escondemos as crónicas de sempre

 19-1

 

sempre sonhei

não escrever este poema

 

mas

 

há uma faca e um vaso vazio de mim no lugar que reservava aos livros

 

cansei-me

 

das palavras e

d      os espaços

 

preenchidos

por ti

 

acabaram

os poemas de amor

se os houve

acabaram os poemas

do erotismo

que

 

inventávamos

existir

nos bancos de jardim

 

onde nascemos gravei a nossa morte em letras fundas

e nada mais.

18-1

 

por todo o mundo

existem as praias

e as ondas

que as alimentam,

porque o mar,

outrora mudo,

precisou de inventar

as mais belas metáforas

para dizer que te ama

 

por todo o mundo

existem os poetas

e as palavras

que alimentam,

porque o homem,

outrora mudo,

precisou de inventar

as mais belas metáforas

para dizer que te ama

 

por todo o mundo

existes tu

e os sonhos

que alimentas,

porque deus,

vendo-me mudo,

precisou de inventar

uma forma secreta

de fazer-me sonhar.

 

17-1

 

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