do corpo III
o teu aroma marítimo
vem lentamente
como sangue
vem frequentemente
para lavar o meu corpo
com chamas
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o teu aroma marítimo
vem lentamente
como sangue
vem frequentemente
para lavar o meu corpo
com chamas
quero dançar nas tuas mãos
enquanto houver orquídeas
as lágrimas
de saliva
escorrem sedentas
pela pele
os joelhos abrem-se lentamente
e anunciam o grito
no fundo quente
do deleite em silêncio
contorcer o corpo
num arrepio
porque no teu rosto há sempre uma fogueira
a ser o estelar brilho duma ondulada música
e na tua pele o infinito parece dar passagem
porque nos teus braços o mar navega solto
e no teu corpo real as estrelas adormecem
em harmonia com íntimos e coloridos desejos
é por muito mais que sorriem os sonhos
e teimo em ser o suspiro do sangue
na asa de um beijo furioso e faminto
é nevoeiro o brilho das estrelas
quando da tua boca sai a indizível
teia de amor
é silêncio o rumor do mar
no geométrico infinito
do teu rosto
só nas nuvens é possível escrever as tuas mãos
e apenas no calor é que elas se movem lentas
inerente ao prazer do toque está a tua respiração
e a energia que ela transmite e revela aos sismos
é na furiosa agitação da carne que grito o teu nome
mas nas chamas do teu corpo arde a serenidade
e ignoras as exclamações de amor na minha voz
finges não perceber o sangue nos meus dedos
deixa errar
as minhas mãos
até onde respiram as fontes
que ardam
entre os teus lábios
tocar-te como quem sonha
tocar agora o fulgor
e errar novamente até à fogueira breve
mergulhar
entrar
tocar-te como se respira
contigo imaginar o teu nome
e a simplicidade com que incendeia
os filamentos do sonho
a inocência
e a extrema lucidez do infinito
o que sobra depois dele?
um céu sem estrelas?
um poema sem sílabas
um oceano sem ondas
dunas de silêncio no corpo
teias de solidão nos olhos
lágrimas que a música liberta
espero o silêncio ardente dos pássaros
para poder nele ver a solidão das estrelas
e a cruel navegação da saudade no corpo
a imobilidade do branco e do cimento
faz pesado o infinito e atenua memórias
sem que a eternidade as condense
a impaciência desfaz a poesia durante o silêncio
e apaga a perfeição escaldante dos moinhos de fogo
nas avenidas de sangue que os orgasmos desenham
com canetas de carnal desejo
anéis de versos e vozes sangrentas estrangulam
o único despertar permitido ao palpável
esfaqueiam a liberdade da criação
e os mapas de amor das letras
desejo humedecido,
prazer recortado,
orquídeas unidas,
chamas curvas.
gemidos ansiados,
olhos escondidos,
nudez debruçada,
ondas fluídas.
elevado fulgor: travão do infinito
com lâminas de voz, luz e luar,
silhueta de noites que não começam
verso delirante que me liberta de vendas
e me embriaga com o próprio sangue:
mistério que te transborda do corpo.
desejar-te assim cego,
no orgasmo do sol:
beber o ardor das estrelas
depositado nos teus dedos.
descer o teu cabelo
nas vertentes do teu sorriso,
navegar nos teus lábios
até às margens do teu beijo.