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vinho tinto

vinho tinto

26
Set12

a rosa do mundo

Quem sonhou que a beleza passa como um sonho?

Por estes lábios vermelhos, com todo o seu magoado orgulho,

Tão magoados que nem o prodígio os pode alcançar,

Tróia desvaneceu-se em alta chama fúnebre,

E morreram os filhos de Usna.


Nós passamos e passa o trabalho do mundo:

Entre humanas almas, que se agitam e quebram

Como as pálidas águas em seu fluxo invernal,

Sob as estrelas que passam, sob a espuma do céu,

Vive este solitário rosto.


Inclinai-vos, arcanjos, em vossa incerta morada:

Antes de vós, ou de qualquer palpitante coração,

Fatigado e gentil alguém esperava junto ao seu trono;

Ele fez do mundo um caminho de erva

Para os seus errantes pés.





w. b. yeats

a rosa do mundo 2001 poemas para o futuro

tradução de josé agostinho baptista

assírio & alvim

2001
15
Set12

Aviso

A noite que precedeu a sua morte

Foi a mais breve de toda a sua vida
Pensar que estava vivo ainda
Era um fogo no sangue até aos punhos
A sua força era tal que ele gemia
 
Foi quando atingia o fundo deste horror
Que o seu rosto num sorriso se lhe abriu
Não tinha apenas um único camarada
Mas sim milhões e milhões de camaradas
 
Para o vingarem sim bem o sabia
E então para ele ergue-se a alvorada...
 
 
 
Paul Éluard
25
Ago12

QUARTO / AS ILHAS AFORTUNADAS

Que voz vem no som das ondas

Que não é a voz do mar?

E a voz de alguém que nos fala,

Mas que, se escutarmos, cala,

Por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,

Sem saber de ouvir ouvimos

Que ela nos diz a esperança

A que, como uma criança

Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas

São terras sem ter lugar,

Onde o Rei mora esperando.

Mas, se vamos despertando

Cala a voz. e há só o mar.

 

F. Pessoa - Mensagem

13
Ago12

MAMOGRAFIA DE MÁRMORE

Deliciam-me as palavras
dos relatórios médicos, os nomes cheios
de saber oculto e míticos lugares
como a região sacro-lombar ou o tendão de Aquiles.

Numa mamografia de rastreio,
a incidência crânio-caudal seria
um bom título para uma tese teológica.

Alguns poetas falam disso. Pneumotórax
de Manuel Bandeira ou Electrocardiograma
de Nemésio, para não referir os vermelhos de hemoptise
de Pessanha ou as engomadeiras tísicas
de Cesário.

Mas nenhum(a) falou (ou fala)
de mamografia de rastreio. Versos dignos
só os de mamilo róseo desde o tempo
de Safo ou de Penélope. E, de Afrodite
enquanto deusa, só restaram óleos e

mamografias de mármore.
 
Inês Lourenço blog facebook
13
Ago12

O AMOR

EUGÉNIO DE ANDRADE, in OBSCURO DOMÍNIO (1971) , POESIA (Modo de Ler, 2011)

Estou a amar-te como o frio
corta os lábios.

A arrancar a raiz
ao mais diminuto dos rios.

A inundar-te de facas,
de saliva esperma lume.

Estou a rodear de agulhas
a boca mais vulnerável

A marcar sobre os teus flancos
o itinerário da espuma

Assim é o amor: mortal e navegável.
 
06
Ago12

Busque Amor novas artes, novo engenho

Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

                         Luís de Camões
04
Ago12

Cantiga do Riso

Quando as matas verdes se riem de alegria
E as ribeiras fazendo covinhas passam a rir,
Quando todo o ar se ri com os nossos risos,
E os montes verdes se riem com esse rir.

Quando os campos se riem de verde vivo
E o gafanhoto se ri na cena risonha,
Quando a Maria e a Susana e a Emília
com bocas redondas cantam «Ah, Ah, Ah, Ih!».

Quando as aves de cor se riem à sombra
Onde a mesa está cheia de nozes e cerejas
Anima-te & sê feliz, vem e canta comigo
Ao som desse doce refrão «Ah, Ah, Ah, Ih!».

William Blake, Cantigas da Inocência e da Experiência

03
Ago12

Mar

 

Mar, metade da minha alma é feita de maresia
Pois é pela mesma inquietação e nostalgia,
Que há no vasto clamor da maré cheia,
Que nunca nenhum bem me satisfez.
E é porque as tuas ondas desfeitas pela areia
Mais fortes se levantam outra vez,
Que após cada queda caminho para a vida,
Por uma nova ilusão entontecida.
 
 
E se vou dizendo aos astros o meu mal
É porque também tu revoltado e teatral
Fazes soar a tua dor pelas alturas.
E se antes de tudo odeio e fujo
O que é impuro, profano e sujo,
É só porque as tuas ondas são puras.
 

 
Sophia de Mello Breyner Andresen



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